Em dia de ata do Copom, Haddad diz que juro “nem deveria estar em 15%”
No dia em que o Banco Central (BC) divulgou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nesta terça-feira (23/9), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), voltou a defender a queda da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, atualmente em 15% ao ano.
No último encontro do Copom, na semana passada, a autoridade monetária decidiu manter o juros inalterados, em 15% ao ano – ainda é a maior taxa em quase duas décadas, desde 2006.
A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a inflação. Quando o Copom aumenta os juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
Ao reduzir a Selic, por outro lado, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
“O [Gabriel] Galípolo [presidente do BC] assumiu agora, em uma crise grande, em dezembro. Eu não estou no lugar dele. Quando você herda um problema, é difícil. Foi uma transição muito complexa, não foi simples. Isso não foi devidamente diagnosticado, na minha opinião. Terá um tempo em que poderemos falar mais à vontade”, disse Haddad, em entrevista ao ICL Notícias.
“A inflação no Brasil vai ser igual ou menor do que a do ano passado. É importante esse trabalho de trazê-la para dentro da banda, dentro daquele horizonte permitido pelo centro de metas. Penso que o Galípolo vai chegar a um momento em que vai juntar a diretoria e tomar essa decisão”, prosseguiu o ministro da Fazenda, reiterando a aposta no início do ciclo de cortes da Selic em breve.
“Eu entendo que tem espaço para esse juro cair, acredito que nem deveria estar em 15% [ao ano]. Ele [Galípolo] tem os quatro anos de mandato dele e vai entregar um resultado consistente ao Brasil”, afirmou. “Eu não voto no Copom. Mas essa opinião [de que é hora de baixar os juros] boa parte do mercado compartilha.”
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“História será contada”
Na entrevista, o ministro da Fazenda disse que a história da transição entre Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo no BC ainda precisa ser contada. De acordo com Haddad, que não deu maiores detalhes, o processo foi marcado por dificuldades e sobressaltos.
“Essa história virá à tona. Ela vai ser contada em algum momento. Nós estamos driblando crise toda semana. E muitas vezes as crises são artificialmente construídas”, afirmou. “Nós tivemos um período muito complexo em que, durante dois anos, tivemos de conviver com um presidente de BC indicado pelo governo anterior.”
Segundo Haddad, “quando o Brasil estava polarizado em torno de duas forças democráticas, PT e PSDB, tínhamos uma força de centro-direita e uma de centro-esquerda se alternando no poder”, o que era saudável. “Desde que o bolsonarismo ocupou o espaço da direita, a partir de 2018, nós não estamos em uma situação normal. Estamos em uma situação excepcional”, completou.
Ata do Copom
Nesta manhã, o BC divulgou a ata da última reunião do Copom. No documento, a autoridade monetária reforçou que a Selic deve ficar em 15% por período “bastante prolongado” para alcançar o objetivo de colocar a inflação na meta de 3%, fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Para o colegiado, “o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais”. Por isso, o cenário exige “particular cautela” por parte de países em desenvolvimento, como o Brasil, em um ambiente “marcado por tensão geopolítica”.
O Copom avaliou que os dados mais recentes da economia indicam uma moderação no ritmo de crescimento, o que traz “maior convicção” de que o cenário previsto pelo BC está se confirmando.
Apesar de fatores que poderiam alterar essa trajetória, como estímulos fiscais e expansão do crédito, os efeitos observados até agora estão alinhados com o que era esperado. Em relação à inflação, a autoridade monetária apontou que as últimas leituras apresentam um quadro mais favorável, embora os níveis ainda estejam acima do que é considerado compatível com a meta estabelecida.
“O Comitê avalia que a reancoragem das expectativas de inflação reduz os custos da desinflação e entende que tal processo exige perseverança, firmeza e serenidade”, diz a ata.