Guerra da Ucrânia tem novo enredo pós-ONU com Zelensky, Trump e Lavrov

Guerra da Ucrânia tem novo enredo pós-ONU com Zelensky, Trump e Lavrov

A 80ª Assembleia da ONU ganhou um novo enredo para a guerra na Ucrânia, após o discurso do presidente Volodymyr Zelensky, o encontro dele com Donald Trump e a atuação de Sergey Lavrov como rosto da diplomacia russa na maratona de debates. Reuniões paralelas em Nova York expõem avanços de parceria Kiev-EUA e críticas de Moscou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e União Europeia.

Trump e Zelensky se reuniram na terça-feira (23/9), em Nova York, no quarto encontro desde o retorno do republicano à Casa Branca. Em meio ao impasse por um cessar-fogo duradouro na Ucrânia e à escalada das tensões entre Otan e Rússia, o presidente ucraniano destacou avanços militares recentes.

“Graças aos nossos soldados, temos essa possibilidade, essa oportunidade, e continuaremos até que a Rússia pare esta guerra. Precisamos de mais pressão, mais sanções, e espero que com os Estados Unidos e a Europa”, disse o presidente ucraniano.

Trump elogiou a resistência de Kiev: “Temos grande respeito pela luta que a Ucrânia está travando. É incrível. Esta é uma guerra que deveria ter terminado em três ou quatro dias. Agora, são três anos e meio, e a Rússia parece presa”.

Ao Metrópoles, o especialista em Direito Internacional Pablo Sukiennik, analisou que os movimentos recentes revelam que Trump parece ter mudado de estratégia ao perceber os limites de sua pressão apenas sobre Kiev.

“No primeiro momento, ele queria acabar a guerra de qualquer maneira e viu Zelensky como obstáculo. Depois, percebeu que não era só isso, que a questão também passava pela Rússia. A mudança de discurso mostra a tentativa de pressionar Moscou, mas sem sucesso até aqui”, avaliou.

Segundo ele, a posição de Putin, que rejeitou propostas iniciais de cessar-fogo, indica que os objetivos russos vão além da manutenção de territórios ocupados no leste ucraniano. “Surge a pergunta: o que realmente deseja Vladimir Putin?”, questionou Sukiennik.

Diplomacia em movimento

Logo após a reunião de Trump e Zelensky, Lavrov, reuniu-se com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, também à margem da Assembleia da ONU.

De acordo com comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Lavrov e Rubio trocaram impressões sobre a guerra, reafirmando interesse em buscar uma solução pacífica com base nos entendimentos da cúpula bilateral de Anchorage, no Alasca.

O chanceler afirmou que Moscou está disposto a coordenar esforços com Washington para “abordar as causas profundas do conflito”, mas criticou planos de Kiev e aliados europeus que, segundo ele, buscam prolongar a guerra.

Já o Departamento de Estado informou que Rubio reiterou o apelo de Trump pelo “fim imediato da violência” e pediu que a Rússia adote “medidas significativas” para uma resolução duradoura.

O republicano também reforçou a necessidade de que países da Otan estejam prontos para abater aeronaves russas em caso de violações de espaço aéreo, mas condicionou a ajuda de Washington às “circunstâncias”.

Sukiennik, então, destaca que, embora os Estados Unidos exerçam papel central, não são capazes de determinar sozinhos os rumos do conflito. “Trump já mostrou que quer encerrar a guerra a todo custo, mas não consegue. Rússia, Ucrânia e União Europeia possuem margens de atuação independentes, o que limita a influência norte-americana”, concluiu.

Kremlin reage

As falas de Trump provocaram reação em Moscou. O porta-voz Dmitry Peskov ironizou a declaração do republicano de que a Rússia seria um “tigre de papel”: “A Rússia é mais frequentemente associada a um urso. Não existem ursos de papel, e a Rússia é um urso de verdade”, afirmou.

Apesar do diálogo reaberto entre chanceleres, as negociações de paz seguem travadas. Moscou insiste no reconhecimento das áreas ocupadas, incluindo a Crimeia, enquanto Kiev reafirma que só aceitará um acordo que garanta a restauração plena de suas fronteiras.

Voz da ONU

Na Assembleia Geral da ONU, Zelensky afirmou que o mundo vive a “corrida armamentista mais destrutiva da história” e acusou a Rússia de expandir o conflito para além da Ucrânia.

“A Ucrânia foi só a primeira. Agora, drones russos já estão voando pela Europa, e as operações russas já estão se espalhando por vários países. Putin quer continuar esta guerra expandindo-a, e ninguém pode se sentir seguro agora”, disse.

Ele anunciou ainda a exportação de armamentos ucranianos para países aliados. “Estamos prontos para fazer com que nossas armas modernas se tornem a sua segurança moderna. E estes são sistemas poderosos testados em uma guerra real, quando todas as instituições internacionais falharam”, afirmou, acrescentando que “parar esta guerra é mais barato do que construir creches ou abrigos subterrâneos para infraestruturas críticas”.

Para o especialista Pablo Sukiennik, apesar do papel central dos EUA, Washington não consegue definir sozinho os rumos do conflito. “Trump já mostrou que quer encerrar a guerra a todo custo, mas não consegue. Rússia, Ucrânia e União Europeia possuem margens de atuação independentes, o que limita a influência norte-americana”, concluiu.

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