Cidade do Entorno teve 100 pedidos para exploração de ouro em 2 anos

A cidade de Luziânia (GO), que fica a 59 quilômetros de Brasília (DF), teve 100 pedidos de exploração no solo da região, em menos de dois anos. As solicitações partiram de uma empresa de mineração subsidiária a uma empresa canadense.
A Kinross Brasil Mineração S/A foi a responsável por emitir em média 100 pedidos de exploração de solo à Agência Nacional de Mineração (ANM). A companhia tem sede no Canadá, com o nome de Kinross Gold Corporation.
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Igreja Nossa Senhora do Rosário, maior ponto turístico de Luziânia (GO), foi construída por escravos e pode “esconder” mina de ouro
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Historiadores apontam que há ouro debaixo do santuário
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Ao menos 87 escravos, que construíram a igreja porque não podiam ir à missa onde a população branca ia, foram enterrados no local
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Os números riscados no chão são identificadores dos caixões
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Antônio é filho de Gelmires Reis, tido como o maior historiador do município histórico
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Antônio João dos Reis, 93, historiador de Luziânia
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Sendo uma das maiores produtoras de ouro no Brasil, a companhia demonstrou bastante interesse na região goiana. A avalanche de pedidos começou em 2024, indicando o interesse da mineradora no município goiano.
Entre 2019 e 2023, a média do chamado requerimento de registro de licença no site da ANM era parecida, oscilando entre sete e 12 pedidos por ano. Além disso, as solicitações eram sempre feitas por várias empresas.
Já em 2024, a agência reguladora recebeu 78 pedidos, sendo 67 da empresa canadense Kinross Gold Corporation, por meio da filial brasileira Kinross Brasil Mineração S/A.
Em 2025, os pedidos parecem estar diminuindo, mas o número ainda é maior do que o período entre 2019 e 2023. De janeiro a setembro deste ano, a ANM recebeu 29 pedidos na totalidade, sendo 20 da Kinross.
A Kinross Brasil Mineração S.A. atua desde 2005 em Paracatu (MG), cidade distante 240 quilômetros de Brasília (DF). A empresa se autointitula “uma das maiores produtoras de ouro do Brasil, responsáveis por 22% da produção nacional”. Opera na Mina do Ouro, no município mineiro. “Com um grande projeto de expansão, elevamos a capacidade de lavra de minério e ampliamos em mais de 15 anos o tempo de vida útil da mina, agora estimado até 2032”, diz em seu site.
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O grupo já foi alvo do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que chegou a pedir, em 2022, indenização de R$ 50 milhões por dano moral coletivo devido à empresa ter depositado rejeitos na barragem Eustáquio, em Paracatu. De acordo com o MPMG, a prática deixou a população mineira em pânico e causou danos morais coletivos após, em maio de 2021, as sirenes de rompimento da barragem Eustáquio dispararem. O espaço tem mais de 300 milhões de metros cúbicos e é maior que as barragens rompidas nas cidades mineiras Mariana e Brumadinho.
Grama do ouro a R$ 500
O Metrópoles conversou com um ex-garimpeiro, morador de Luziânia, para saber se a região ainda tem trabalhadores que extraem o cascalho do solo em busca de ouro. José de Carvalho, 71 anos, assegura que as terras luzianenses ainda guardam o metal precioso.
“Ainda há, nos dias de hoje, garimpeiros que mexem no solo e extraem ouro de forma autônoma. Como é muito difícil a regularização, eles acabam atuando clandestinamente devido à necessidade financeira”, explica Carvalho.
José de Carvalho aponta que os garimpeiros vendem o grama do ouro a, uma média, de R$ 400 a R$ 500. “Cada garimpeiro consegue extrair, em média, de um a dois gramas por dia”, comenta o ex-garimpeiro. “Alguns compradores já sabem e vêm aqui, enquanto outros garimpadores buscam sair do município para vender por preço melhor”, conta.
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“Acredito que aqui em Luziânia existam, atualmente, menos de 10 garimpeiros”, aposta Carvalho.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a Kinross Brasil Mineração S/A, que pediu sete dias úteis para elaborar uma resposta. A ANM foi demandada para se pronunciar em meio à alta de pedidos da empresa mencionada, mas não havia retornado até a última atualização deste texto.
A reportagem também buscou as polícias Federal (PF) e Civil de Goiás (PCGO). Em caso de manifestação, a reportagem será atualizada.