Dólar e Bolsa andam de lado com ameaça de paralisação do governo Trump
O dólar registrou estabilidade em relação ao real nesta terça-feira (30/9), com leve alta de 0,02%, cotado a R$ 5,32. Já o Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira (B3), fechou em queda de 0,07%, aos 146.237 pontos.
Os dois mercados, de câmbio e ações, tanto no Brasil como no mundo, foram afetados pela possibilidade de “shutdown”, ou seja, de paralisação do governo americano. Isso porque o prazo para Congresso dos Estados Unidos aprovar o orçamento do país vence nesta terça-feira.
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Sem isso, a Casa Branca terá de enfrentar o bloqueio temporário de alguns serviços federais. Num “shutdown”, podem ser prejudicadas áreas que vão do tráfego aéreo aos pagamentos da seguridade social.
Nesta terça-feira, no entanto, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que não se preocupa com um possível “shutdown”. Ele considera que “pessoas inteligentes” entendem que a responsabilidade por uma eventual paralisação de áreas da administração seria responsabilidade de integrantes do Partido Democrata, que fazem oposição ao governo do republicano.
Guerra da Ptax
Isso ocorreu em relação ao cenário externo. No interno, o mercado passou pela “guerra da Ptax”., como dizem os analistas. A Ptax é uma média do preço do dólar em relação ao real, calculada pelo Banco Central (BC). Ela serve de referência para contratos de câmbio.
No fim do mês, empresas e investidores tentam influenciar o preço da moeda americana para que a média lhes seja favorável. Com isso, esses grupos vendem ou compram grandes quantidades de dólar para puxar o preço para cima ou para baixo, afetando a média final. Daí, serem comuns oscilações na cotação.
Volatilidade
Na avaliação de Mauricio Garret, chefe da mesa de operações internacionais do Banco Inter, o “shutdown” pode gerar volatilidade no curto prazo, provocada pela incerteza política, com os partidos Republicano e Democrata mirando a “forte disputa política no Congresso em 2026”.
“Em menor escala, também temos impactos econômicos, como atrasos em pagamentos governamentais, possíveis demissões no governo federal e pausa na divulgação de dados”, diz. “Todo esse mix gera incerteza, podendo ser um gatilho para vendas e realizações de lucros, em um mercado que vem de uma sequência muito forte de recuperação desde abril, operando nas máximas históricas.”
Efeitos limitados
Garret observa que os últimos “shutdowns” provocaram pequenas correções nos mercados e tiveram efeitos limitados e temporários, raramente afetando os fundamentos econômicos de longo prazo. Eles também não resultaram em crises econômicas ou intervenções do banco central americano. “Porém, essa pode ser a ‘desculpa’ que o mercado estava precisando para uma realização maior de curto prazo, enquanto a temporada de resultados corporativos não ganha força”, afirma.
Para Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, o dólar passou a terça-feira oscilando em meio a forças opostas. “De um lado, a disputa técnica pela formação da Ptax de fim de mês e trimestre intensificou a volatilidade, com comprados e vendidos travando posições para reduzir perdas”, diz. “Do outro, o ambiente externo seguiu favorável às moedas emergentes.”
Ele considera que o risco de paralisação do governo americano, a perspectiva de novos cortes de juros e sinais de contínuos de fraqueza no mercado de trabalho nos EUA enfraqueceram a divisa no exterior. “No Brasil, o quadro doméstico deu suporte ao real, com a Selic elevada aliada à comunicação firme do Banco Central no sentido de ancorar as expectativas de inflação com a manutenção da taxa de juros ainda em patamares restritivos”, afirma.
Mercado de trabalho
Leonardo Santana, sócio da Top Gain, lembra que nesta terça-feira também foi divulgado mais um dado sobre o mercado de trabalho nos EUA, o que pesou no mercado. No caso, houve a veiculação do relatório conhecido por Jolts (Job Openings and Labor Turnover Survey, uma pesquisa mensal do Departamento do Trabalho americano.
Ele mostrou que as vagas de emprego em aberto, uma medida da demanda por mão de obra, aumentaram em 19 mil, chegando a 7,227 milhões no último dia de agosto. O número veio pouco acima dos 7,185 milhões previstos pelos analistas.
“O Jolts veio acima do esperado, sinalizando um mercado de trabalho ainda aquecido, com mais postos de emprego abertos do que se previa”, diz. “Essa leitura reforça a ideia de que a economia americana segue robusta, o que pode adiar cortes de juros pelo banco central americano e isso não é exatamente o que o mercado gostaria de ouvir.”
Ibovespa
No começo do dia, observa Santana, a Bolsa chegou a descolar do cenário internacional e abriu em forte alta, o que indicava algum movimento pontual de entrada de capital ou montagem de posição de algum player. “Mas isso não encontrou sustentação”, afirma Santana. “Aos poucos, o mercado voltou a se alinhar ao humor externo, que piorou diante da ameaça de ‘shutdown’ nos EUA. A queda do petróleo também pesou, sobretudo nas ações da Petrobras e outras petroleiras, o que ajudou a virar o Ibovespa para o campo negativo.”