Setor de serviços é mais resiliente à desaceleração, dizem economistas

O desempenho positivo do setor de serviços no Brasil, que registrou o sétimo mês consecutivo de alta, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (14/10), mostra uma resiliência maior do segmento ao processo de desaceleração da economia brasileira.

A avaliação é de economistas e analistas do mercado consultados pela reportagem do Metrópoles nesta manhã, pouco depois da divulgação dos dados do setor pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com os dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), o setor registrou uma leve alta de 0,1% em agosto deste ano, na comparação com o mês anterior. Foi o sétimo resultado positivo seguido, com alta acumulada de 2,6% no período. Com isso, o setor está 18,7% acima do nível pré-pandemia (fevereiro de 2020) e renova o ápice da série histórica.

Já na comparação com agosto do ano passado, o volume de serviços no país avançou 2,5%, a 17ª taxa positiva consecutiva. O acumulado no ano foi de 2,6% e, em 12 meses, houve alta de 3,1%, o que significou uma ligeira aceleração do ritmo de crescimento em relação ao acumulado até julho (3%).

A variação de 0,1% no volume de serviços foi acompanhada por quatro das cinco atividades, com destaque para os serviços profissionais, administrativos e complementares (+0,4%). Os demais avanços vieram de transportes (+0,2%), serviços prestados às famílias (+1%) e outros serviços (+0,6%). Por outro lado, informação e comunicação (-0,5%) foi a única baixa no mês.

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O que diz o mercado

André Valério, economista sênior do Banco Inter, observa que a única atividade a ter variação negativa em agosto foram os serviços de informação e comunicação, que recuaram 0,5%, a segunda queda nos últimos três meses. “Essa atividade tem sido a de maior impacto no resultado do setor de serviços no ano, respondendo por metade do crescimento de 2,6% observado até agora. O recuo no mês foi fruto da desaceleração da subatividade de serviços de TI, que desacelerou de 0,9% para 0%, enquanto os serviços audiovisuais intensificaram seu recuo, de -2,6% para -5,5%”, destacou.

Para Valério, o resultado de agosto “indica uma acomodação no crescimento dos serviços, que tem sido o setor mais resiliente da economia”. “Mesmo com o avanço disseminado entre as atividades, vemos um movimento de recomposição de perdas recentes, como foi o caso de serviços às famílias e serviços profissionais, sem grandes sinais de uma aceleração no ritmo de crescimento”, afirma.

“Finalmente, chama a atenção a perda de dinamismo nos últimos meses dos serviços de TI, que tem sido um dos grandes responsáveis pela robustez do setor. De toda forma, esperamos que o setor mantenha essa tendência de acomodação na margem, mas com crescimento robusto no ano de 2,8%”, projeta o economista.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, afirma que “os serviços seguem resilientes e devem manter um bom ritmo de crescimento até o fim de 2025″. “Acreditamos que o setor deve terminar o ano com expansão acima de 2%, impulsionado pelos estímulos promovidos pelo governo, como o aumento de gastos, a liberação de recursos do FGTS para os trabalhadores e o incentivo à concessão de crédito”, avalia.

“Embora o setor de serviços continue sólido, outros dados de atividade divulgados pelo IBGE têm mostrado que a economia brasileira como um todo está em desaceleração e deve crescer menos do que em 2024. Essa perda de fôlego é reflexo dos juros mais altos, que tendem a impactar os investimentos e o consumo. Esperamos que o PIB cresça 2% em 2025 e 1,5% em 2026”, completa Moreno.

Igor Cadilhac, economista do PicPay, espera um crescimento de 2,1% no setor de serviços em 2025. “Avaliamos que a economia brasileira segue em bom ritmo, sustentada por um mercado de trabalho próximo do pleno emprego e por uma massa salarial que se mantém em níveis historicamente elevados”, aponta.

Segundo Cadilhac, “a atividade econômica permanece aquecida, embora em processo de desaceleração gradual”. “Para os próximos meses, esperamos que a combinação de inflação persistente, juros elevados e condições financeiras mais restritivas leve a uma perda de dinamismo mais evidente, ainda que esse movimento esteja se concretizando de forma mais lenta do que inicialmente previsto”, avalia.

O economista Maykon Douglas também ressalta que, entre os grandes setores acompanhados mensalmente pelo IBGE, o de serviços “tem sido o mais resiliente ao impacto dos juros elevados, que têm afetado principalmente o consumo mais sensível ao crédito”. “O resultado de agosto parece refletir o impacto do pagamento dos precatórios no meio do ano, fornecendo um impulso pontual à demanda”, afirma.

“No entanto, o índice de difusão está abaixo da média histórica, ou seja, as variações positivas estão menos disseminadas. Além disso, os serviços às famílias acumulam uma queda trimestral anualizada de 3,9%, segundo os meus cálculos”, pondera o economista. “Ou seja, a desaceleração econômica começa a afetar os serviços, mas relativamente menos que na indústria e no varejo.”

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