Foto: Camila Coimbra Isaac foi morto por um adolescente de 15 anos, que havia sido apreendido apenas 18 dias antes por tráfico de drogas O…

Foto: Camila Coimbra
Isaac foi morto por um adolescente de 15 anos, que havia sido apreendido apenas 18 dias antes por tráfico de drogas
O clima de comoção marcou o velório de Isaac Augusto de Brito Vilhena de Morais, de 16 anos, neste domingo (19), na capela 1 do Cemitério Campo da Esperança. Entre lágrimas e abraços, familiares, amigos e colegas de escola se despediram do estudante, morto a facadas na noite de sexta-feira (17), ao tentar recuperar o celular roubado por um grupo de adolescentes no parque entre as quadras 112 e 113 Sul.
O irmão mais velho de Isaac, Edson Aparecido Avelino Júnior, de 28 anos, técnico em tecnologia da informação, relembrou com emoção o menino que, segundo ele, era conhecido pela alegria, pela educação e pelo respeito com todos.
Foto: Camila CoimbraO jovem, que havia acabado de concluir o curso de inglês, sonhava em seguir os passos do irmão e se tornar analista de segurança da informação. “Ele me dizia que queria trabalhar com TI, como eu. Conversávamos sobre a profissão, e isso me dói muito, porque ele não vai poder realizar esse sonho”, lamentou.
De acordo com Edson, o irmão era um adolescente responsável, querido na escola e entre os amigos da quadra, onde costumava jogar bola e andar de bicicleta nas tardes livres. “Apesar da idade, ele era muito centrado. Tinha uma liderança natural com os colegas e sempre buscava fazer o certo”, descreveu.
Foto: Camila CoimbraNa casa da família, em Brasília, o quarto que os dois dividiam continua do mesmo jeito. “As coisinhas dele ainda estão todas lá, certinhas. Por enquanto, a gente tem o apoio dos amigos e da família, mas vai ser difícil quando o tempo passar”, disse Édson.
Com o olhar firme, fez também um apelo por mudanças: “A gente vive num país em que, com 16 anos, você pode votar e decidir o futuro de milhares de pessoas. Então também deve responder pelos seus atos. Trabalhar não é crime; eu comecei com 14 anos, e isso molda o caráter. O que aconteceu com o Isaac não pode se repetir.”
Dor compartilhada
Antes do velório, ainda pela manhã, a vizinhança organizou uma homenagem nas entrequadras 112/113 Sul. Balões brancos foram soltos no céu em sinal de paz, enquanto amigos e familiares deixavam flores e bilhetes com mensagens de carinho.
Entre os participantes estava o auditor federal Ricardo Eugênio Monteiro Coelho, vizinho e amigo da família, que relembrou o momento da tragédia e o sentimento de insegurança que paira sobre a comunidade.
“Os meninos jogavam bola quando foram abordados por três adolescentes armados com faca, que pediram os celulares. O Isaac reagiu, correu atrás, mas levou uma facada certeira no peito. O colega dele ainda tentou socorrer, mas ele caiu ali mesmo, dentro do parque”, contou Ricardo.
Ele criticou a demora no atendimento de emergência. “O socorro demorou cerca de 50 minutos para chegar, mesmo com o Corpo de Bombeiros a menos de dois quilômetros. Primeiro veio um carro que não era ambulância, só depois chegou a unidade de resgate. O pai é cirurgião, a mãe enfermeira, e nem assim conseguiram salvá-lo. Foi desesperador”, relatou.
O vizinho afirma que o caso não é isolado. “Meu filho de 17 anos também já foi assaltado ali perto. É um tipo de crime que se repete, de adolescentes que roubam celulares para vender por quinhentos reais. Está virando rotina. A diferença é que, desta vez, a violência foi ainda mais brutal”, lamentou.
Crime e investigação
Isaac foi morto por um adolescente de 15 anos, que havia sido apreendido apenas 18 dias antes por tráfico de drogas. A Polícia Militar do Distrito Federal prendeu seis suspeitos no Paranoá.
Segundo o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, o grupo era “inexperiente”, e o caso foi classificado como latrocínio (roubo seguido de morte). O celular da vítima ajudou a rastrear e localizar os envolvidos.
A governadora em exercício, Celina Leão (PP), afirmou que o episódio é “isolado”, mas defendeu o endurecimento das punições para menores infratores. “Por que um adolescente de 16 anos pode votar e não pode responder pelos crimes que comete?”, questionou.
A fala ecoa o sentimento de revolta de familiares e moradores. Para Édson, a resposta à morte do irmão precisa ir além da prisão dos envolvidos. “É preciso mudar a forma como lidamos com esses casos. Que o Isaac sirva de exemplo e não seja apenas mais um nome nas estatísticas”, afirmou.
Por Camila Coimbra – JBr

