Como shutdown nos EUA afeta negociações sobre tarifaço com o Brasil

Como shutdown nos EUA afeta negociações sobre tarifaço com o Brasil

O impasse político em Washington, nos Estados Unidos, colocou o governo americano em seu mais longo período de paralisação, o chamado shutdown, desde 2019. E, enquanto parte da máquina pública americana opera em ritmo reduzido, o Brasil observa com cautela os impactos do bloqueio orçamentário nas negociações sobre o chamado “tarifaço”, que elevou impostos de importação sobre produtos brasileiros em 50%.

Segundo especialistas em comércio exterior, o shutdown afeta diretamente a interlocução entre os dois países. Isso porque parte dos órgãos americanos que regulam ou acompanham disputas comerciais, como o Departamento de Comércio e agências ligadas a investigações tarifárias, estão com as atividades parcialmente suspensas.

Comércio entre Brasil e EUA perde fôlego

Os dados mais recentes da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), divulgados nesta quinta-feira (6/11), mostram que as exportações brasileiras para os Estados Unidos caíram 37,9 % em outubro, na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Na avaliação de analistas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MIDC), o recuo nas vendas para os Estados Unidos é reflexo do ambiente mais protecionista.

Nos bastidores, técnicos do governo brasileiro reconhecem que o shutdown deve atrasar o avanço nas conversas sobre tarifas. A paralisação atinge o funcionamento de órgãos-chave, como o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), responsável por conduzir políticas tarifárias e tratados comerciais.

Sem a equipe completa, decisões sobre possíveis revisões de tarifas ou consultas a países parceiros ficam suspensas.


O que é o shutdown nos Estados Unidos

  • O temo significa “paralisação do governo” e ocorre quando o Congresso não aprova o orçamento federal ou não chega a um acordo sobre os gastos públicos;
  • Sem autorização orçamentária, vários órgãos e serviços do governo ficam sem recursos para operar;
  • Apenas atividades consideradas essenciais continuam funcionando, como segurança nacional, controle aéreo e serviços médicos de emergência;
  • Servidores públicos federais são dispensados ou trabalham sem receber, até que o orçamento seja aprovado;
  • A paralisação afeta o funcionamento de agências reguladoras, tribunais administrativos, museus, parques e pesquisas públicas.

Entenda como o shutdown pode atrasar as negociações

Órgãos paralisados: parte das agências federais envolvidas em comércio exterior reduziram as atividades durante o bloqueio orçamentário. Isso retarda reuniões, análises e decisões sobre tarifas e acordos.

Falta de interlocução: com servidores afastados e agendas suspensas, os canais diplomáticos e técnicos ficam mais lentos, o que impede avanço em temas sensíveis, como o “tarifaço” sobre produtos brasileiros.

Incerteza política: a paralisação gera instabilidade interna nos EUA e reduz a prioridade do governo em tratar de assuntos externos.

Impacto econômico: quanto mais longo o shutdown, maior o prejuízo à economia americana, o que pode levar o governo a adotar uma postura mais protecionista ou cautelosa nas negociações comerciais.

Enquanto o impasse em Washington continua, o governo brasileiro avalia alternativas. Entre elas, estão diversificar mercados, reforçar acordos com a União Europeia e Ásia, e pressionar por previsibilidade nas regras comerciais com os americanos assim que o governo dos EUA retomar as atividades.

Relacionamento entre Lula e Trump

Durante a 80ª sessão da Assembleia-Geral da ONU, em setembro de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou criticando sanções e medidas unilaterais que prejudicam a soberania do Brasil.

Nesse contexto, houve um breve encontro entre Lula e o presidente americano, Donald Trump, que viu “ótima química” entre os líderes. O encontro serviu como ponto inicial de uma possível reaproximação entre os dois países após meses de tensão.

Em 6 de outubro de 2025, Lula e Trump mantiveram uma videoconferência de aproximadamente 30 minutos.  Na conversa, Lula solicitou a Trump a retirada da taxação que os EUA haviam imposto sobre produtos brasileiros.

Também houve troca de números de telefone para estabelecer uma linha direta de comunicação.  Trump comentou que foi uma ligação “muito boa” e que haveria reunião presencial em breve.

No final do mês passado, na Malásia, durante a cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), Lula e Trump se reuniram pessoalmente para tratar de comércio, tarifas e sanções. Novas conversas deveriam ser marcadas após os encontros, o que ainda não aconteceu.

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