Fábrica dos “Cogumelos Mágicos” operava com alvará de prefeitura

A Prefeitura Municipal de Curitiba, por meio da Secretaria Municipal de Finanças, concedeu alvará de funcionamento para uma empresa que, oficialmente, deveria atuar no cultivo de plantas de lavoura temporária, comércio de frutas, verduras, hortaliças e produção de mudas. No entanto, na prática, o negócio servia como fachada para uma organização criminosa especializada na produção e distribuição de cogumelos alucinógenos para todo o país.

A estrutura do tráfico foi revelada nessa quinta-feira (4/9), quando a Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), deflagrou a Operação Psicose. O objetivo era desarticular o grupo que movimentava cifras milionárias e chegou a render R$ 200 mil por dia com atuação nacional.

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No Paraná, policiais encontraram galpões empresariais dedicados ao cultivo e preparo dos cogumelos em escala quase industrial, envolvendo diversos colaboradores. O estado abrigava a maior estrutura produtiva da rede, responsável por centenas de quilos de psilocibina destinados ao abastecimento do mercado nacional.

Veja imagens do galpão que contava com alvará de prefeitura:

Toneladas de “cogú”

As investigações apontam que o grupo realizou 3.718 remessas pelos Correios, o equivalente a 1,5 tonelada de drogas distribuídas. Além das vendas on-line, o esquema fornecia grandes volumes de entorpecentes a outros traficantes.

A investigação começou com o monitoramento de redes sociais e sites que ofertavam os chamados “cogumelos mágicos”. A empresa identificada utilizava perfis no Instagram para atrair consumidores que eram redirecionados a uma plataforma de e-commerce com catálogo completo, fotos em alta resolução, descrições detalhadas e diferentes métodos de pagamento, como cartão, Pix e transferências bancárias.

Os clientes poderiam escolher entre espécies variadas de cogumelos, com diferentes “potências” e formas de preparo. As entregas eram feitas em embalagens discretas, dificultando o rastreamento.

Marketing agressivo

O grupo investia pesado em estratégias de marketing digital, incluindo impulsionamentos pagos, contratação de influenciadores e DJs, patrocínio em festivais de música eletrônica e disseminação de informações falsas sobre supostos benefícios terapêuticos da psilocibina, em tentativa de normalizar o consumo entre jovens.

Os produtos eram comercializados a preços que variavam de R$ 84,99 por 3 gramas a R$ 9,2 mil por quilo. Nessa quinta, foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão em Curitiba (PR), Joinville (SC), São Paulo (SP), Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Vitória (ES) e no Distrito Federal.

Também foram decretadas nove prisões preventivas contra líderes e operadores do esquema. A Polícia Civil apura ainda a participação de agentes públicos na proteção das atividades ilícitas.

Cessão de alvará

A coluna entrou em contato com a prefeitura de Curitiba para entender como funcionou, no caso do galpão alvo da PCDF, a liberação do alvará. Por meio de nota, o Executivo local explicou que o alvará em questão permite apenas a atividade de escritório administrativo e não autoriza nenhum tipo de cultivo no local.

“O modelo de permissão de alvará de Curitiba segue o padrão nacional, no qual a empresa que solicita a abertura de um escritório administrativo (unidade auxiliar) precisa declarar as Classificação Nacional de Atividades Econômicas(CNAES) do objeto social da unidade principal. A Prefeitura reitera que cumpriu com todas as etapas previstas para liberação de alvará e não compactua com nenhum tipo de atividade ilegal. Qualquer ação desse tipo deve ser punida pelas autoridades competentes nos termos da lei”, diz a nota.

Crédito da Materia

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