Anexação da Cisjordânia amplifica tensões com Israel

Os Emirados Árabes Unidos (EAU) advertiram Israel nesta quarta-feira (3/9) que a anexação da Cisjordânia representaria uma “linha vermelha” e prejudicaria o espírito dos Acordos de Abraão, que normalizaram as relações entre Abu Dhabi e Israel. Enquanto isso, na Cisjordânia ocupada, a situação continua se agravando.
A Autoridade Palestina anunciou na terça-feira (2/9) ter registrado, apenas no mês de agosto, 1.613 ataques do exército e de colonos contra cidadãos palestinos.
A declaração dos EAU ocorre enquanto o ministro israelense das Finanças, Bezalel Smotrich – que defende a anexação total da Cisjordânia – anunciou, em agosto, a retomada de um projeto controverso para estabelecer uma colônia que separaria Jerusalém Oriental da Cisjordânia ocupada.
A Autoridade Palestina, que exerce autonomia limitada em algumas partes da Cisjordânia, e grande parte da comunidade internacional condenaram o projeto, classificando-o como ilegal e afirmando que a fragmentação do território inviabilizaria qualquer plano de paz para a região.
Os Emirados Árabes Unidos, cujas relações com Israel foram normalizadas em 2020 por meio dos Acordos de Abraão, também se opuseram ao projeto. Trata-se da crítica mais contundente de Abu Dhabi a Israel desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023.
Escalada de tensões na Cisjordânia ocupada
A violência vem crescendo justamente quando vários países, incluindo a França, anunciaram que pretendem reconhecer o Estado da Palestina durante a próxima Assembleia Geral da ONU.
Entre os pontos mais críticos da Cisjordânia ocupada está Hebron, no sul do território palestino. Lá, os episódios de violência se multiplicam, e o prefeito da cidade foi preso pelo exército israelense. Tayssir Abou Chneyné teve sua casa invadida e saqueada pelos soldados de Israel. A operação ocorre enquanto a imprensa israelense repercute a intenção de Benjamin Netanyahu de substituir os representantes da Autoridade Palestina por líderes locais alinhados a Israel.
Na terça-feira, colonos israelenses tomaram posse de novas casas palestinas na cidade velha de Hebron. O evento foi coberto pela emissora israelense Canal 14, que o classificou como “histórico”. Em entrevista, o diretor de uma escola religiosa judaica afirmou ter agido “com o aval do governo e do exército”.
Moradores expulsos, desfile de colonos pela cidade velha, tiros com munição real disparados pelo exército, terras agrícolas queimadas. A situação em Hebron, já muito tensa, se deteriora dia após dia. A cidade, que abriga o Túmulo dos Patriarcas, incluindo Abraão, está no centro dos interesses dos colonos israelenses, liderados por Bezalel Smotrich, ministro das Finanças com posições supremacistas.
Esse surto de violência acontece poucos dias antes do anúncio da possível oficialização do Estado palestino por diversos países, incluindo a França. No final de julho, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou que Paris reconhecerá o Estado da Palestina na Assembleia Geral da ONU, que ocorrerá entre 9 e 23 de setembro em Nova York.
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