após esboçar reação em agosto, produção industrial volta a cair

após esboçar reação em agosto, produção industrial volta a cair

A produção industrial brasileira recuou em setembro deste ano, na comparação com o mês anterior, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (4/11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


O que aconteceu

  • Em setembro, segundo o levantamento, a produção industrial do país registrou queda de 0,4%, na comparação mensal, na série com ajuste sazonal.
  • Em relação ao mesmo período do ano passado, o setor teve uma alta de 2%.
  • No acumulado de 2025 até setembro, a produção industrial teve alta de 1%.
  • No período de 12 meses até setembro, o aumento na produção foi de 1,5%.
  • Na série com ajuste sazonal, a média móvel trimestral registrou leve alta de 0,1% no período de três meses encerrado em setembro deste ano, na comparação com o mês anterior.
  • O resultado da indústria em setembro veio em linha com as estimativas dos analistas do mercado, que eram de queda de 0,4% (mensal) e alta de 1,7% (anual).

Divisão por categorias

De acordo com os dados do IBGE, três das quatro grandes categorias econômicas e 12 dos 25 segmentos industriais pesquisados tiveram queda na produção em setembro.

Entre as atividades monitoradas, as influências negativas mais relevantes foram de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,7%), indústrias extrativas (-1,6%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,5%).

Também tiveram baixa em setembro os segmentos de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-2,9%), produtos químicos (-0,4%), produtos diversos (-2,7%) e outros equipamentos de transporte (-1,9%).

Por outro lado, entre as atividades cuja produção aumentou em setembro, destaque para produtos alimentícios (+1,9%), que teve o maior impacto na média da indústria e alcançou o terceiro mês consecutivo de alta.

Também houve influências positivas dos segmentos de produtos do fumo (+19,5%), produtos de madeira (+5,5%), produtos de borracha e de material plástico (+1,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+1,7%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+2%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (+2,3%), bebidas (+1,1%) e metalurgia (+0,5%).

Já entre as grandes categorias econômicas, ainda na comparação com o mês anterior, as taxas negativas ficaram com bens de consumo duráveis (-1,4%), bens intermediários (-0,4%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,1%). Por outro lado, o setor de bens de capital avançou 0,1% no período.

Análise

Segundo André Valério, economista sênior do Banco Inter, o resultado de setembro indica uma “recomposição no crescimento de outras atividades que estavam apresentando performance abaixo da média nos últimos meses, mas sem sinais de retomada de crescimento”. “O panorama geral ainda é de acomodação na produção industrial e esperamos que o setor apresente crescimento de 1,1%”, afirmou.

Para o economista, “com o resultado de setembro, a indústria não exercerá uma grande contribuição sobre o PIB do 3º trimestre de 2025”. “Com a acomodação no crescimento do varejo e dos serviços, além da contribuição negativa do agronegócio, esperamos que o PIB recue na margem, em 0,2% no 3º trimestre frente ao 2º trimestre deste ano. Ainda assim, esperamos que o PIB apresente um crescimento de 2% no ano.”

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, avalia que o desempenho da indústria em setembro foi “mais fraco” que o esperado. “Apesar da alta registrada em setembro, os dados dos últimos meses mostram que o segmento de bens de capital, ligado a investimentos em máquinas e equipamentos, vem perdendo força. O setor tem sido impactado pelos juros altos, que encarecem o custo do financiamento para a compra desses produtos, desestimulando os investimentos em modernização e ampliação de parques produtivos”, afirma.

Para Moreno, “o desempenho da produção industrial em setembro corrobora nossa avaliação de que a indústria brasileira como um todo perdeu força em 2025”. “Nossa expectativa é de que o setor termine o ano com crescimento próximo a 1%, bem abaixo da expansão de 3,1% registrada em 2024”, projeta.

“A desaceleração da indústria ao longo deste ano é um dos sinais de que a economia brasileira, de maneira geral, deve crescer menos do que em 2024. Essa perda de fôlego é reflexo dos juros altos, que tendem a reduzir o espaço para novos investimentos e limitar o crescimento da atividade econômica. Nossa expectativa é de que o PIB cresça 2% em 2025 e 1,5% em 2026”, completa.

Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, destaca que “a indústria de transformação mostrou desempenho heterogêneo, com ganhos pontuais em ramos ligados ao consumo e recuos mais expressivos em segmentos de maior intensidade tecnológica”. “O setor extrativo, por sua vez, seguiu limitado pela produção modesta de petróleo e minério, após fortes resultados no primeiro semestre”, diz.

“Apesar do crescimento acumulado de 1% no ano e de 1,5% nos últimos 12 meses, o resultado de setembro confirma um cenário de atividade industrial mais irregular e dependente de estímulos localizados”, afirma Benedito.

“Para o último trimestre de 2025, esperamos volatilidade nos resultados mensais, com tendência de estabilidade na média móvel e ritmo de recuperação moderado. Para 2025, projetamos um crescimento de 1,8% na produção industrial brasileira. Apesar dos desafios impostos pela desaceleração da economia global e pelo prolongado período de juros elevados, acreditamos que a retração será moderada.”

O economista Maykon Douglas, por sua vez, avalia que “o setor industrial ficou quase estagnado no terceiro trimestre e mantém um mau desempenho desde o último trimestre de 2024, principalmente na parte de transformação”. “Mesmo em agosto, quando o setor subiu um pouco mais, boa parte daquela alta se explicava pela baixa base estatística. A categoria de bens de consumo é o destaque negativo: no acumulado do terceiro trimestre, reportou uma queda de 2,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo as minhas contas”, observa.

“Nesse contexto, a indústria extrativa tem influenciado mais o resultado da produção industrial: quando cai, como aconteceu em setembro, puxa o índice cheio para baixo. A indústria tende a manter os resultados ruins em razão do aperto monetário promovido pelo Copom”, completa o economista.

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