Ativista deportado dos EUA vira símbolo da repressão política
A decisão judicial publicada na quarta-feira (17/9) que autoriza a expulsão do estudante Mahmoud Khalil, ativista pró-Palestina e ex-líder das manifestações na Universidade Columbia, em Nova York, reacendeu o debate sobre repressão política nos campi universitários dos EUA. O veredito foi proferido em abril pela juíza de imigração Jamee Comans, da Louisiana, e prevê sua deportação para a Argélia – país de sua cidadania – ou para a Síria, onde nasceu em uma família palestina.
O caso ainda pode ser revertido judicialmente, mas já mobiliza entidades de direitos civis, juristas e movimentos estudantis. Khalil, que possui residência legal nos EUA por meio do green card, foi detido em março pela polícia de fronteira (ICE) e mantido preso por mais de três meses em um centro de detenção para imigrantes. Durante esse período, sua esposa – uma dentista norte-americana – deu à luz ao primeiro filho do casal.
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Segundo a juíza, Khalil teria omitido informações de forma “deliberada” em seu processo imigratório. A defesa nega e afirma que se trata de uma retaliação política. Em nota à União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), o estudante declarou: “Não é surpresa que o governo Trump continue adotando medidas de retaliação contra mim por exercer minha liberdade de expressão”.
“Macarthismo” manda lembranças
Khalil tornou-se um dos rostos mais visíveis do movimento “Revolt for Rafah”, que ocupou o campus de Columbia em protesto contra os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. A repressão ao movimento estudantil pró-Palestina tem se intensificado desde o retorno de Donald Trump à presidência, em janeiro de 2025. Segundo levantamento da Human Rights Watch, ao menos 17 estudantes foram detidos em ações semelhantes desde fevereiro, e três enfrentam processos de deportação.
O caso Khalil remete a episódios históricos de perseguição política nos EUA. Durante o macarthismo, nos anos 1950, estudantes e professores foram expulsos de universidades sob suspeita de simpatia comunista. Mais recentemente, em 2020, líderes do movimento Black Lives Matter foram alvo de vigilância federal e ações judiciais após protestos contra a violência policial.
A cláusula legal usada para justificar a expulsão – prevista na Lei de Imigração e Nacionalidade de 1952 – permite deportações por “risco à política externa”, uma formulação vaga que tem sido criticada por juristas por abrir margem à perseguição ideológica. O secretário de Estado, Marco Rubio, defendeu publicamente a medida, alegando que Khalil “representa uma ameaça à estabilidade diplomática dos EUA”.
Reações e mobilização
A decisão provocou protestos em Nova York, Washington e no próprio campus da Columbia. Estudantes, professores e organizações como a ACLU e o Center for Constitutional Rights classificaram a expulsão como “um ataque direto à Primeira Emenda”, que garante liberdade de expressão e associação nos Estados Unidos.
O caso também repercute internacionalmente. A Anistia Internacional e a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH) pediram que o governo norte-americano suspenda a deportação e investigue possíveis abusos de poder.
Para o público brasileiro, o episódio revela como o ativismo universitário – especialmente ligado a causas internacionais – pode ser criminalizado em contextos de polarização extrema.
A defesa de Khalil prepara um recurso em instâncias superiores, e o caso deve se tornar um marco jurídico sobre os limites da liberdade política de estudantes estrangeiros nos EUA.
Veja a linha do tempo do caso Mahmoud Khalil
Outubro de 2023 – Início da guerra em Gaza após ataques do Hamas a Israel. – Universidades norte-americanas, incluindo Columbia, tornam-se palco de protestos pró-Palestina.
Novembro de 2024 – Mahmoud Khalil emerge como um dos líderes do movimento “Revolt for Rafah” na Universidade Columbia. – Protestos pedem o fim do apoio militar dos EUA a Israel e maior transparência institucional.
8 de março de 2025 – Khalil é detido em Nova York por agentes da ICE (polícia de fronteira), sem mandado judicial. – Ele é transferido para um centro de detenção na Louisiana, onde permanece por mais de três meses.
21 de junho de 2025 – Liberação provisória de Khalil após decisão do juiz federal Michael Farbiarz, que considera a detenção “sem base legal”. – O processo de deportação, no entanto, continua em curso.
11 de abril de 2025 – Juíza Jamee Comans determina a expulsão de Khalil para a Argélia ou, em segunda instância, para a Síria. – A decisão se baseia em supostas irregularidades no pedido de residência permanente.
15 de abril de 2025 – ACLU, Human Rights Watch e Center for Constitutional Rights denunciam o caso como repressão política. – Protestos são registrados em Nova York, Washington e no campus de Columbia.
17 de abril de 2025 – O secretário de Estado, Marco Rubio, defende publicamente a expulsão, alegando “risco à política externa”. – Juristas comparam o caso a perseguições políticas do período do macarthismo.
18 de setembro de 2025 – Defesa de Khalil prepara recurso em instâncias superiores. – O caso se torna símbolo da criminalização do ativismo estudantil pró-Palestina nos EUA.
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