Atos de 7/9 acirram disputa entre esquerda e direita e apressam 2026

O Dia da Independência, celebrado no último domingo (7/9), foi marcado por manifestações com polarização política e funcionou como prévia da disputa presidencial de 2026. De um lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) buscou reforçar a defesa da soberania nacional durante o desfile cívico-militar em Brasília. Do outro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se apresentou na Avenida Paulista como principal voz da direita, em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O titular do Palácio do Planalto participou do desfile acompanhado de ministros, militares e aliados políticos. O evento destacou a 30ª Conferência das Partes (COP30), marcada para novembro em Belém (PA), e o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em pronunciamento em rede nacional, no sábado (6/9), o petista defendeu o Pix, cobrou regulação das redes sociais e criticou as ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil.
“Não somos e não seremos novamente colônia de ninguém. Somos capazes de governar e de cuidar da nossa terra e da nossa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro”, enfatizou o presidente.
Na capital paulista, Tarcísio de Freitas subiu em cima de um carro de som para criticar o governo federal e o Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto defendia Jair Bolsonaro. “Vamos defender a nossa democracia representativa. E é fundamental que para isso as pessoas possam ser avaliadas nas urnas. Para isso é fundamental que nós tenhamos Jair Messias Bolsonaro na eleição do ano que vem. Só existe um candidato para nós que é Jair Messias Bolsonaro”, esbravejou Tarcísio, em seu discurso.
Embora ainda evite assumir publicamente a condição de pré-candidato, Tarcísio tenta se consolidar como herdeiro do eleitorado bolsonarista e tem atuado pela aprovação da anistia ao ex-presidente, tema que está parado na Câmara dos Deputados, presidida por Hugo Motta (Republicanos-PB).
Cerco judicial a Jair Bolsonaro
- Em novembro de 2024, a Polícia Federal (PF) indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativas de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
- Já em fevereiro de 2025, a Procuradoria-Geral da República (PGR) ofereceu ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe, organização criminosa, deterioração de patrimônio tombado e outros crimes.
- Jair Bolsonaro viraria réu pelos crimes pelos quais foi denunciado em março, quando a Primeira Turma do STF recebeu a denúncia contra o ex-presidente e outros setes acusados por integrar o núcleo central da trama golpista.
- Em julho, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou medidas cautelares contra Jair Bolsonaro coação, obstrução e atentado à soberania nacional. A decisão, no entanto, ocorre em um processo diferente da trama golpista, onde a PF apontou que Bolsonaro e Eduardo têm trabalhado junto a autoridades dos Estados Unidos contra agentes públicos do Brasil.
- Já no começo de agosto, Moraes determinou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro por descumprir as medidas cautelares. Segundo o ministro, houve a publicação nas redes sociais de declarações de Bolsonaro durante manifestação realizada por apoiadores.
Para conseguir ser o herdeiro direto dos votos de Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas tem deixado cada vez mais o tom mais moderado e se alinhado com as bandeiras do ex-presidente, inclusive na política externa.
Quando Donald Trump impôs uma tarifa de 50% contra os produtos brasileiros, o governador de São Paulo chegou a culpar a gestão federal e disse que “Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”. Apesar disso, o republicano informou que a nova porcentagem é um resultado do que ele chamou de “caças às bruxas” contra Jair Bolsonaro.
Apesar das críticas, negociações sobre a medida vêm sendo conduzidas pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB). Tarcísio buscou reuniões com empresários e representantes do governo norte-americano, mas não conseguiu protagonismo nas conversas.
Cenário para 2026
A pesquisa Quaest divulgada em 21 de agosto mostra que Lula abriu vantagem em todos os cenários possíveis para um eventual segundo turno em 2026, inclusive contra Tarcísio de Freitas, com quem chegou a ficar tecnicamente empatado em um levantamento anterior, divulgado em julho.
A pesquisa foi realizada entre os dias 13 e 17 de agosto, antes do indiciamento do ex-presidente e do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair Bolsonaro. Foram entrevistadas 12.150 pessoas, com nível de confiança de 95%.
Cenário 3: com Lula e Tarcísio de Freitas
- Lula (PT): 35%
- Tarcísio de Freitas (Republicanos): 17%
- Ciro Gomes (PDT): 11%
- Ronaldo Caiado (União): 6%
- Romeu Zema (Novo): 4%
- Indecisos: 16%
- Branco/nulo/não vai votar: 21%
Apesar dos pronunciamentos de Tarcísio, o ex-presidente tem evitado dar declarações públicas de apoio ao governador de São Paulo, uma vez que Eduardo Bolsonaro tem demonstrado, inclusive pelas redes sociais, críticas ao político.