Caminhamos com dignidade para uma negociação

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse nesta segunda-feira (29/9) que as negociações entre os governos de Brasil e Estados Unidos foram alçadas a um novo patamar após a aproximação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump, dos EUA, durante a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
As declarações do chefe da equipe econômica foram dadas durante sua participação em um evento promovido por um banco, em São Paulo.
“Todo mundo há de convir que não faz o menor sentido do ponto de vista econômico, nem para eles nem para nós. São países amigos há 200 anos, nunca tivemos problema. Acho que foi um tiro no pé deles, inclusive para a economia americana. Não faz sentido pagar mais caro no café, na carne…”, afirmou Haddad sobre o tarifaço comercial de 50% imposto pelos EUA a grande parte dos produtos exportados pelo Brasil ao país.
“Quero crer que vai se iniciar em algum momento um debate racional. Primeiro, separando o que é econômico do que é político. O presidente dos EUA tem o direito de ter suas preferências. Mas tentar usar a tarifa como arma política é um equívoco que deveria ser corrigido o quanto antes”, prosseguiu Haddad.
O ministro da Fazenda disse ainda que o governo norte-americano precisa compreender e respeitar o funcionamento das instituições da democracia brasileira.
“Aqui não tem autocrata. Temos um democrata na Presidência. Aqui tem presidente, Congresso, Supremo…”, afirmou Haddad.
“Acredito que essa animosidade artificial vai ser superada. Não penso que vai durar. Sempre acredito que o bom senso vai prevalecer e nós temos de apostar nele, sem bravata. Nós estamos caminhando com dignidade para uma negociação, sem baixar a cabeça, mas entendendo que a situação exige esse trato diplomático para ser superada”, completou o ministro da Fazenda.
Ao justificar a tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil, Trump alegou que o país estaria promovendo uma “caça às bruxas” que teria como maior alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado do líder norte-americano.
De acordo com a Casa Branca, o Judiciário brasileiro estaria perseguindo Bolsonaro com o intuito de inviabilizá-lo politicamente. O ex-presidente foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ter liderado uma tentativa de golpe de Estado no país, após ser derrotado nas eleições de 2022.
Na semana passada, durante a Assembleia-Geral da ONU, Trump fez um aceno público a Lula. “Nós o vimos, eu o vi. Ele me viu e nos abraçamos. E, então, eu disse: ‘Você acredita que vou falar em apenas dois minutos?’ Na verdade, combinamos de nos encontrar na semana que vem. Não tivemos muito tempo para conversar, uns vinte segundos e pouco, pensando bem”, disse Trump em seu discurso.
Apesar disso, o republicano voltou a afirmar que as taxas aplicadas contra o Brasil são uma forma de defender os interesses norte-americanos. “O Brasil agora enfrenta tarifas pesadas em resposta aos esforços sem precedentes para interferir nos direitos e liberdades de cidadãos americanos e de outros países, com censura, repressão”, completou Trump.