“Figurões” da economia defendem diretora do Fed afastada por Trump
Um grupo de quase 600 economistas, incluindo alguns nomes importantes do debate econômico mundial, divulgaram nesta terça-feira (2/9) uma carta aberta em apoio à Lisa Cook, diretora do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos).
Na semana passada, Cook foi “demitida” pelo presidente norte-americano Donald Trump por suposta fraude em hipotecas.
A diretora do Fed acionou a Justiça contra Trump, alegando que o republicano não tem prerrogativas para afastá-la do cargo. O caso deve chegar à Suprema Corte do país.
A carta aberta dos economistas conta com assinaturas de nomes como os vencedores do Prêmio Nobel de Economia Claudia Goldin e Paul Romer.
Também endossam o documento, entre muitos outros, Christina Romer, que foi assessora econômica do ex-presidente dos EUA Barack Obama, e Trevon Logan, professor da Universidade Estadual de Ohio e coautor de uma série de artigos em parceria com Cook.
O que diz a carta
Os economistas afirmam que a carta defende a independência do Fed e é endereçada a Trump, ao Congresso dos EUA e à população norte-americana.
“Uma boa política econômica exige instituições monetárias com credibilidade. Por sua vez, instituições críveis dependem da independência do Federal Reserve”, diz o texto.
Segundo os signatários do documento, “um vasto conjunto de pesquisas confirma que países com bancos centrais mais independentes alcançam melhores resultados econômicos”.
“Pela lei, os diretores têm mandatos fixos e só podem ser removidos ‘por justa causa’ – um critério rigoroso criado para resguardar a autonomia da instituição. Essa proteção não é apenas uma formalidade legal, mas um mecanismo prático, desenhado para impedir que a política monetária seja usada em benefício político imediato, em detrimento do que é melhor para a economia”, diz a carta.
No documento, os quase 600 economistas destacam que, “ao longo de sua gestão, ela [Cook] se manifestou de forma pública e profissional sobre temas centrais ao mandato do Fed, como estabilidade financeira e dinâmica da inflação”.
De acordo com o documento, a tentativa de interferência de Trump na autoridade monetária dos EUA “ameaça o princípio fundamental da independência do banco central e enfraquece a confiança em uma das instituições mais importantes” do país. “Essa confiança é a base do sistema que sustentou a vitalidade econômica americana ao longo das décadas”, dizem os economistas.
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Diretora do Fed foi à Justiça contra Trump
Na última quinta-feira (28/8), Lisa Cook, que integra o Conselho de Governadores da autoridade monetária, entrou com uma ação judicial contra Trump alegando que o mandatário não tem prerrogativas para afastá-la do cargo.
De acordo com os advogados de Cook, Trump teria violado uma lei federal que estipula que o presidente dos EUA pode destituir um dirigente do Fed apenas por “justa causa” – o que, dizem os defensores, não ocorre agora.
O caso deve ser levado à Suprema Corte dos EUA. Neste momento, o tribunal tem uma maioria de juízes conservadores, considerados mais alinhados a Trump.
Em comunicado divulgado na semana passada, o Fed também saiu em defesa de Lisa Cook e rechaçou a suposta demissão.
Entenda o caso
No fim de agosto, Donald Trump usou as redes sociais para anunciar a demissão de Cook da autoridade monetária por uma suposta fraude em contratos de hipoteca. Em um comunicado publicado em seu perfil na Truth Social, o presidente dos EUA afirmou que Cook teria feito “declarações falsas” em contratos de hipoteca.
“O povo americano precisa ter plena confiança na honestidade dos membros encarregados de definir a política e supervisionar o Federal Reserve”, completou Trump.
Dias antes, Trump havia mencionado um pedido do chefe da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA (FHFA, na sigla em inglês) para que o Departamento de Justiça dos EUA investigasse a diretora do Fed pela eventual fraude.
O presidente do conselho da FHFA, Bill Pulte, disse que Cook teria cometido a fraude ao designar um condomínio como residência principal apenas duas semanas depois de tomar um empréstimo para uma outra casa de sua propriedade no estado do Michigan.
“Quando alguém comete fraude hipotecária, prejudica a fé e a integridade do nosso sistema. Não importa quem você é: ninguém está acima da lei”, escreveu Pulte em publicação no X (antigo Twitter).
Cook teria contratado hipotecas nos estados do Michigan e da Geórgia, em 2021. Um formulário oficial de divulgação financeira, de 2024, lista três hipotecas supostamente detidas por Cook, duas das quais listadas como residências pessoais.
Os empréstimos para residências primárias podem ter taxas mais baixas do que as hipotecas sobre propriedades de investimento, consideradas mais arriscadas pelos bancos.
Na semana passada, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, um dos aliados mais próximos de Trump, fez coro ao republicano e defendeu a saída imediata de Cook.
“A Sra. Lisa Cook precisa ser respeitosa com o país neste momento e ir embora. Ela deve sair e rezar, pedindo a Deus para que a polícia não vá buscá-la”, disse Lutnick, em entrevista à CNBC.