Interferência de Trump no Fed é “ameaça séria” à economia, diz Lagarde

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, classificou como “uma ameaça muito séria” à economia global a possível interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano).
Na semana passada, Trump anunciou a demissão de Lisa Cook, diretora da autoridade monetária dos EUA, por suposta fraude em hipotecas.
A diretora do Fed acionou a Justiça contra Trump, alegando que o presidente dos EUA não tem prerrogativas para afastá-la do cargo. O caso deve chegar à Suprema Corte norte-americana.
“Se ele [Trump] conseguisse fazê-lo, acredito que isso representaria uma ameaça muito séria para a economia dos EUA e para a economia global”, alertou Lagarde, em entrevista a uma emissora de rádio francesa.
“A política monetária obviamente tem um impacto sobre os EUA em termos de manutenção da estabilidade de preços e da garantia de pleno emprego no país”, prosseguiu a chefe do BCE.
“Acredito que a estabilidade da economia dos EUA e, consequentemente, os efeitos que isso teria em todo o mundo, já que é a maior economia do planeta, seriam muito preocupantes.”
Apesar da preocupação, Lagarde disse que o republicano terá “muita dificuldade” para consumar qualquer tipo de interferência no Banco Central dos EUA.
Em comunicado divulgado na semana passada, o Fed saiu em defesa de Lisa Cook e rechaçou a suposta demissão. “Mandatos prolongados e proteções contra demissões arbitrárias asseguram que as decisões do Fed sejam baseadas em dados, análise econômica e nos interesses de longo prazo do povo americano”, diz a nota.
No texto, a autoridade monetária norte-americana afirma ainda que seus diretores têm “mandatos fixos de 14 anos” e só podem ser afastados pela Presidência da República “por justa causa”, de acordo com o Federal Reserve Act – lei de 1913 que trata do funcionamento do BC dos EUA.
Inflação
Na entrevista, a presidente do BCE também falou sobre o compromisso da autoridade monetária europeia em controlar a inflação na zona do euro. Segundo Lagarde, a estabilidade de preços já foi alcançada, e o BCE “fará o que for necessário” para mantê-la.
A meta de inflação na zona do euro é de 2% ao ano. “Continuaremos a adotar as medidas necessárias para garantir que a inflação esteja controlada e os preços permaneçam estáveis”, assegurou Lagarde.
A maioria dos analistas do mercado acredita que a autoridade monetária da Europa deve manter a taxa básica de juros, atualmente em 2%, inalterada pelo menos na próxima reunião.
No último encontro do colegiado, em julho, a maioria dos integrantes classificou os riscos inflacionários como “amplamente equilibrados” no continente. A taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para combater a inflação.