Retórica de Netanyahu coloca barreiras para um acordo em Gaza? Entenda

Em sua ida aos Estados Unidos, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apoiou o plano para cessar-fogo na Faixa de Gaza, proposto por Donald Trump, nessa segunda-feira (29/9). No entanto, na agenda internacional, a retórica do líder de Israel se baseou na rigidez ao ameaçar o grupo Hamas e culpá-los pelo genocídio no enclave palestino. O Metrópoles conversou com especialistas para entender qual impacto destas declarações para um possível acordo de paz.
Dias antes do encontro com o presidente dos EUA, Donald Trump, Netanyahu esteve na ONU afirmou que Hamas é uma “máquina de terror”, ao mencionar diversas vezes sobre o atentado de 7 de outubro, além de sinalizar que só interromperia as ofensivas no enclave palestino caso de liberdade dos reféns israelenses. O professor de Direito Internacional na Universidade Tuiuti do Paraná, Derek Assenço Creuz, explicou como as declarações inflamáveis atrapalham em um acordo.
“Definitivamente dificulta, mas não apenas pela retórica em si, e sim pela postura política envolvida. Netanyahu mantém uma posição rígida, rejeitando qualquer perspectiva de reconhecimento de um Estado palestino. O cenário (para um cessar-fogo) continua tão distante quanto já estava. O discurso segue a mesma linha desde o início da guerra – talvez até mais duro – ao insistir no controle total da Faixa de Gaza e, em última instância, de todo o território palestino” afirmou Creuz.
O que aconteceu em Gaza e como o conflito se intensificou?
- O massacre do Hamas em 7 de outubro intensificou o conflito com Israel.
- A ofensiva culminou na morte de mais de 1,2 mil pessoas, assim como o sequestro de israelenses, que permanecem presos.
- Hamas justificou que o atentado era uma forma de defender o complexo de Al-Aqsa e proteger os palestinos da “judaização” de Israel em Jerusalém Oriental, vista pelo grupo como uma ameaça.
- Em resposta, Israel determinou o “cerco total” em Gaza. A medida deixou palestinos “presos” sob uma crise humanitária, sem acesso a suprimentos.
Na Casa Branca, Netanyahu voltou a ameaçar o grupo ao afirmar que, caso o acordo não seja aceito “Israel terminará o trabalho sozinho”. Declaração essa que corresponde com a intimidação de morte aos integrantes do Hamas na ONU, dizendo que, se nao deporem as armas “Israel os caçará”.
O professor de Direito Internacional, Creuz, ainda afirmou que há grande chance que o conflito se estender caso Hamas discorde do acordo. “Caso o Hamas a rejeite formalmente, há ainda o risco concreto de escalada do conflito, inclusive com maior envolvimento direto de Washington: o presidente Donald Trump não deu muita escolha à organização e afirmou que Israel tem seu total apoio para eliminar o Hamas em caso de descumprimento ou de negativa do acordo”, disse.
Retórica israelense para se esquivar do genocídio em Gaza
Relatórios recentes de uma comissão mandatada pelo escritório de Direitos Humanos da ONU apontam que Israel comete genocídio em Gaza. Netanyahu chamou os documentos de “acusação falsa” e alegou que, se realmente estivesse cometendo o crime, não “imploraria” para os civis se afastarem do perigo quando Israel inicia as ofensivas contra Hamas.
Durante o discurso na ONU, o premiê israelense ainda culpou o Hamas pela crise humanitária em Gaza ao afirmar que o grupo rouba toneladas de comida que Israel oferece com os caminhões de suprimentos essenciais. Sustentando a argumentação, Netanyahu acusa Hamas de pegar os alimentos e fazer uma espécie de comércio ilegal, vendendo os produtos por “preços exorbitantes (aos palestinos) para alimentar sua máquina de guerra”.
“Ao transferir a culpa integralmente para o Hamas, Israel busca reposicionar sua imagem e convencer a comunidade internacional de que não é o agressor, mas a vítima. O cenário (para um cessar-fogo) continua tão distante quanto já estava. O discurso segue a mesma linha desde o início da guerra – talvez até mais duro – ao insistir no controle total da Faixa de Gaza e, em última instância, de todo o território palestino”, pontuou Creuz, professor de Direito Internacional.
Proposta para cessar-fogo em Gaza
O plano de paz contém 20 pontos e consiste em tornar a Faixa de Gaza um território livre do terrorismo. Caso ambos os lados concordem, as Forças de Defesa israelenses poderão se retirar do enclave, e negociações sobre a libertação dos reféns serão iniciadas.
Um ponto diz respeito ao Hamas, e de seus integrantes, que receberiam “anistia” após o retorno de todos os sequestrados — e da deposição de suas armas.
Ainda na Casa Branca, Trump disse que Israel concorda com a proposta. Além disso, Trump quer criar um órgão que estabeleça a paz em todo Oriente Médio. “Israel tem meu apoio total para enfrentar qualquer ameaça”, afirmou.