Vídeo mostra momento em que estudante brasileiro é morto na Bolívia

Imagens de câmeras de segurança de um estabelecimento mostram o momento em que Igor Rafael Oliveira Souza, de 32 anos, estudante morto na Bolívia, é colocado contra o chão por seguranças de uma escola que pressionaram o joelho contra o tórax do brasileiro.
O estudante de medicina morreu antes da chegada de ambulância. O laudo da morte comprovou a morte por asfixia e os responsáveis foram condenados.
Mais de 11 minutos de imagens de câmeras de segurança do estabelecimento foram cedidas ao Metrópoles.
Veja o momento da morte do estudante de medicina:
Igor Rafael morreu na última terça-feira (26/8), após ser abordado por seguranças de uma escola alemã em Santa Cruz de La Sierra, cidade a 550 km de La Paz, capital da Bolívia. A polícia boliviana investiga o caso, que é acompanhado pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil.
O brasileiro estaria em uma crise de pânico agravada por uma depressão e uso de substâncias ilícitas e teria entrado em uma papelaria em frente ao prédio onde mora clamando por ajuda. Ao assustar os funcionários, os guardas de uma escola foram acionados para conter o homem e o carregaram para a calçada.
A condução do caso pelos seguranças foi truculenta, deixando o homem com o rosto e o tórax contra o chão. Nas imagens, é possível ver o momento em que Igor é colocado de bruços no chão e em um momento ele para de mexer o corpo, aparentando estar sem sinais vitais.
Durante a abordagem dos guardas da escola, vários populares assistem à cena.
Tratado como indigente
A mãe de Igor, professora aposentada da Secretaria de Educação do DF, Neidimar Vieira, soube da morte apenas dois dias depois, em 28 de agosto, através de informações da imprensa. Imagens de câmeras de segurança foram mostradas à mãe do jovem morto, onde é possível ver a ação.
“Meu filho teve um momento de desequilíbrio, um momento de pânico. Ele entrou em uma tenda, quando os guardas que faziam a segurança de uma escola, imobilizaram e espancaram meu filho, colocando o joelho em cima do tórax e só saíram de cima dele quando ele já estava sem vida. É bem nítido no vídeo que eles tinham apenas a intenção de matá-lo”, destacou Neidimar.
Igor foi considerado pela polícia como indigente, mesmo estando bem vestido, usando um iPhone e um relógio. “Ninguém usou nem o número do celular dele para avisar a família. A dona do apartamento onde ele morava informou que ele não era indigente, levou o contrato de locação e mesmo assim, a polícia não considerou essa prova”, reforçou a mãe.
Veja o relato da mãe do estudante morto:
O Consulado-Geral do Brasil na cidade boliviana informou para a mãe que os seguranças teriam sido condenados a pena mínima somente 48h após o crime, mas com a pena imposta, os suspeitos seguirão em liberdade de acordo com a legislação boliviana. “Os assassinos do meu filho foram julgados em tempo recorde”, disse Neidimar.
Sonho de se tornar médico
“Nós tínhamos um sonho dele terminar o curso neste ano e voltar para o Brasil para trabalhar. A vida dele foi ceifada antes que isso pudesse acontecer. Na terça-feira ele teve um desequilíbrio
“Estou aqui na Bolívia para levar o corpo dele para o Brasil para dar um enterro digno e para cobrar por justiça. “. O vazio existencial que eu sinto, nada vai melhorar. Nossa família está dilacerada, eu não sei se vamos ter força para continuar, mas por ele, vamos lutar até o fim”.
Igor Rafael morava na Bolívia havia 10 anos e estava cursando o último período de medicina no país. O jovem era natural de Anápolis (GO), mas a família mora no Gama, região administrativa do DF.
A família acredita que os homens teriam matado Igor Rafael por asfixia durante a abordagem feita. Rafael teria tido um surto causado por um quadro depressivo e por uso de drogas. Pouco antes da abordagem que terminou na morte do brasileiro, ele foi visto entrando numa papelaria clamado por ajuda, por pensar que estava sendo perseguido.
O funcionário da papelaria teria acionado os seguranças, que carregaram Igor até a calçada para contê-lo. Quando uma ambulância chegou ao local, o brasileiro já estava sem vida.
Autópsia
A autópsia realizada na Bolívia indicou que a morte de Igor foi causada por asfixia mecânica por compressão torácica e asfixia mecânica por sufocamento, confirmando a suspeita da família.
A família também questiona o laudo da morte porque uma das partes do documento fala que o jovem tinha “útero de tamanho e consistência normal, com presença de menstruação”. Apesar dessa informação, Igor era um homem cisgênero, portanto, não tinha útero.
Veja o que diz a autópsia feita pelas autoridades bolivianas:
O que diz o Ministério
O Ministério das Relações Exteriores, informou, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Santa Cruz de la Sierra, que tem conhecimento do caso e que presta a assistência consular à família do brasileiro. Entretanto, a pasta não informou qual é o tipo de assistência será realizada à família do jovem.
Em junho deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alterou o decreto que proibia o governo federal de custear o traslado de corpos de brasileiros mortos no exterior. A medida agora prevê que dificuldades financeiras e mortes que causam comoção sejam exceções, podendo ter os custos cobertos pelo MRE caso haja recursos disponíveis.
A medida foi tomada após a morte da Juliana Marins, aos 26 anos, natural de Niterói (RJ), que caiu de uma trilha em vulcão na Indonésia.
O novo decreto, que revoga o de 2017, apresenta as seguintes situações em que o Ministério das Relações Exteriores custeará o traslado:
- I – a família comprovar incapacidade financeira para o custeio das despesas com o traslado;
- II – as despesas com o traslado não estiverem cobertas por seguro contratado pelode cujusou em favor dele, ou previstas em contrato de trabalho se o deslocamento para o exterior tiver ocorrido a serviço;
- III – o falecimento ocorrer em circunstâncias que causem comoção; e
- IV – houver disponibilidade orçamentária e financeira.
Vaquinha
A mãe de Igor, a professora Neidimar Vieira, criou uma vaquinha com o intuito de arrecadar o custo do translado do corpo para o Brasil que teria um custo mínimo de R$ 26 mil. O Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) está apoiando a profissional na divulgação da vaquinha.
Até a mais recente atualização desta reportagem, mais de R$ 28 mil teriam sido arrecadados através de mais de 280 doações.